Donald Winnicott nasceu em Plymouth, Inglaterra, em 7 de abril de 1896 e morreu em 25 de janeiro de 1971. Na época, era o único psicanalista infantil que também era um pediatra, profissão que continuou exercendo durante toda a sua vida. Ele ocupou cargos importantes na Sociedade Britânica Psicanalítica e foi seu presidente por dois mandatos. Suas extensas obras contribuíram com ideias originais sobre o desenvolvimento precoce, principalmente sobre a vulnerabilidade das crianças e a importância da dependência da mãe nos primeiros meses de vida.
Donald Winnicott é um dos autores que abordou nos seus estudos a questão da agressividade em crianças, ligadas à estruturação do psiquismo. Suas contribuições sobre esta questão marca uma grande diferença. As contribuições de Winnicott foram além da clínica psicanalítica e se aproximam dos pais e educadores com suas reflexões e sugestões a respeito do cuidado e da educação das crianças, a fim de promover um ambiente que atenda às suas necessidades físicas e emocionais.
Alguns dos conceitos importantes da teoria de Winnicottiana são os de: falso self, objeto e fenômenos transicionais e sua perspectiva particular sobre a agressão.
Para Winnicott, o verdadeiro self se refere ao aspecto mais original de cada ser humano, a originalidade de cada um é mais autêntica. Ele é baseado no gesto espontâneo do bebê ligado à sua onipotência. Sempre que a mãe pode ser o espelho que permite ao bebê criar a ilusão de que ele criou o objeto (objeto subjetivo), dará espaço para que logo o verdadeiro self, seja criador e permita ao sujeito se sentir real. Inicialmente, o self está enraizado no corpo e os cuidados maternos que contribuem para alcançar a unidade do psiquismo com o somático.
Para winnicott duas situações pode prejudicar a criação de um self saudável, a primeira trata de uma mãe que não é suficientemente boa, que não leva em conta as necessidades físicas e emocionais do bebê, num período que a criança necessita dependência absoluta (primeiro 06 meses). A negligência desse cuidado, faz com que o bebê para sobreviver cria um falso self que cumprirá a função de proteger o verdadeiro eu, e atuará como uma defesa para reagir a esta intrusão negativa do ambiente, tentando preencher as funções de apoio que a mãe não lhe ofereceu. A segunda é quando a intrusão da mãe é exagerada e desproporcional, sendo um dos efeitos dessa intrusão o ódio; que pode alterar a realidade psíquica do bebê e interferir no estabelecimento do eu, e na capacidade do bebê de ter confiança, de criar e de ilusão.
Winnicott chama de privação à situação em que o ambiente não forneceu os cuidados necessários durante o período de dependência absoluta e utiliza o termo para se referir à perda de um "bom e suficiente" ambiente que promove a integração. Este último cenário é o que se vincula com a tendência anti-social (Winnicott, 1993 [1963]).
A tendência anti-social pode se manifestar em comportamentos como a mentira, o roubo, atos destrutivos, crueldade compulsiva e perversão. Também pode acontecer que a criança oculte essa tendência e desenvolva uma formação reativa (ou seja, manifestando uma afeição oposta ao que sente), ou que adquiram uma personalidade chorosa. As causas destas tendências estão ligadas ao período de dependência em que a mãe deixou de atender às necessidades da criança, por exemplo, devido à doença ou ser envolvida em qualquer situação que a obrigou a afastar-se muito de seu filho.
Outras causas relacionadas com tendências antissociais podem ser devido à perda posterior de um ambiente que poderia sobreviver à agressão da criança. Por exemplo, a separação dos pais pode levar a criança a sentir ansiedade intensa que se manifesta com atitudes destrutivas. Como resultado de qualquer um desses fatos, a criança reage defensivamente, atacando e perdendo a capacidade de sentir culpa (Winnicott, 1981 [1956]).
Winnicott enfatiza a importância da sociedade para prevenir e alterar o comportamento destrutivo que causa a tendência antissocial para a criança e incentiva na esperança de encontrar em outros ambientes a estabilidade perdida: "A criança cuja casa não dá uma sensação de segurança, busca em quatro paredes fora de casa e algumas vezes elas encontra na escola, na igreja o que não tenha conseguido própria casa." (Winnicott, 1986 [1939]: p188).
Portanto, podemos pensar que a violência que criança expressa na escola é, na realidade, um pedido de socorro, uma busca de contenção não encontrada em casa, uma tentativa que o ambiente aceite suas necessidades de dependência e suas reivindicações identifica tórias, de modo que as ligações estabelecidas com o professor e outras figuras de autoridade possa alterar o dano sofrido, o que implica uma esperança não só para a criança, mas também para a nossa sociedade.
Em suma, para Winnicott, a agressividade parte do impulso primitivo de amor-luta para obter o reconhecimento de um mundo externo separado. Em outras palavras, a destrutividade cria a realidade e desde que o ambiente facilite sua expressão, proverá de força e criatividade, cuja causa constitui esse primeiro objeto subjetivo que o bebê cria em sua onipotência, e que se consolida na área da ilusão dos fenômenos transicionais. Winnicott acredita que os destinos negativos da agressividade, quando o ambiente reprime, pode se manifestar como culpa, desvalorização, submissão, dificuldades de aprendizagem, limitação da criatividade, ou como a agressividade reativa destrutiva. Quando a criança percebe que mãe não tem sobrevivido à sua agressão pode resultar em depressão, tendência anti-social, hipocondria, paranoia ou psicose maníaco-depressiva.
Embora reconheçamos a importância da fase de dependência inicial da criança a respeito de sua relação com a mãe nas patologias graves, acreditamos que Winnicott favorece muito a importância que atribui ao ambiente como um facilitador ou perturbador da saúde mental do sujeito, particularmente no que se refere à psicopatia. Na medida em que a patologia de atos antissociais é marcada pela privação ambiental, considera estas doenças mentais como uma tentativa do sujeito de ser curado com a esperança de que o ambiente alcance compensá-lo pelos danos sofridos em seu desenvolvimento, de modo que a sociedade compensasse naquilo que lhe deve. Neste sentido, o sujeito diminui a responsabilidade por suas ações, assumindo-se como uma vítima das falhas ambientais primárias, minimizando os impulsos sádicos subjacentes ao comportamento antissocial.
Reviane Bernardo
Psicóloga Clinica e Forense
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