16 dezembro, 2017

Sangue, Sensacionalismo e Sexo: A Tônica da Violência

                                                                  
 Durante uma série de conferências realizada em uma de nossas igrejas, fiquei responsável em cuidar das crianças enquanto o meu marido falava para os adultos. Num salão preparado especialmente para elas, programamos atividades recreativas, educativas e também espirituais como filmes, brincadeiras e dinâmicas. Era preciso muita criatividade, para segurar 30 crianças entre 3 e 10 anos, por uma hora e meia, todos os dias no período de 30 dias.
Numa certa noite ao realizar uma dinâmica perguntei as crianças: O que vocês querem ser quando crescer? Todas as crianças levantaram as mãos e começaram a responder, uma diz quero ser médica, outro, bombeiro, outra, engenheira, outro, advogado, mais outra, psicóloga, e outro, astronauta, e mais outra professora, e cada um foi respondendo, até que faltou apenas um garoto de mais ou menos 9 anos que estava entretido montando um brinquedo com peças de encaixe que estava sobre a mesa. Então aproximei dele e perguntei: E você o que quer ser quando crescer? Com voz firme e sem tirar os olhos do brinquedo respondeu: Um traficante.
 Um silêncio geral ecoou por toda sala, confesso que não estava preparada para aquela resposta, fiquei sem ação, não sabia o que dizer. E com uma frieza de congelar todo aquele ambiente o garotinho prossegui: Ser traficante tia é muito legal, não preciso nem estudar, vou ganhar muito dinheiro e as pessoas ainda vão me respeitar.
    Esse diálogo aconteceu num o período em que a televisão divulgava em todos os jornais, noticiários e reportagens, sobre a vida criminosa do traficante considerado mais famoso do Brasil Luiz Fernando da Costa, mais conhecido como Fernandinho Beira-mar.
     Notícias sobre a vida delituosa de criminosos como Fernandinho Beira Mar, o maníaco do parque, Champinha, entre outros, ocupa espaços cada vez maiores na Televisão Brasileira.
    Esse modelo de jornalismo iniciou no Brasil a parti dos anos 90 com a introdução de programações e telejornais prestigiando a violência, explorando a tragédia humana e nutrindo o medo da população. Um desses programas foi o “Aqui e agora” que estreou, no dia 20 de maio de 1991, as seis horas da tarde, como Slogan "um jornal vibrante, uma arma do povo, que mostra na TV a vida como ela é!"
      O jornal exibia manchetes com foco em reportagens policiais, envolvendo sequestros, tiroteios, perseguições policiais, assassinatos e crimes brutais, na maioria das vezes mostradas ao vivo. O índice de audiência foi tão alto, que levaram outras emissoras a copiaram a fórmula e apresentarem programas semelhantes, e desde então cenas de perseguições em favelas, tiroteios em praças públicas, pessoas algemadas, sequestros e assassinatos passou a fazer parte dos noticiários e do diálogo diário de muitas pessoas, contribuindo    assim para o medo e sentimento de insegurança da população. 
        Com essa mídia de massa o mundo encolheu e permitiu a disseminação de notícias e ideias numa grande velocidade e com todas essas informações o mundo parece menor do que nunca, os seus conflitos estão mais próximos, os problemas são mais imediatos e a violência mostrada em tempo real deixa a população cada dia com mais assustada e insegura. 

        A guerra do Golfo foi a primeira a expor crianças brasileiras as atrocidades da frente de batalha em suas próprias salas de estar, todas as noites com cenas apresentadas ao vivo. A relação televisão e violência levaram pesquisadores analisarem os efeitos negativos que tais conteúdos poderiam causar as crianças.
As pesquisas de Silberman (1992) (Drabman e Thomas, (1976), (Levine 1996) e Bandura 1968) indicam que crianças expostas a cenas de violência podem desenvolver menos sensibilidade a dor e ao sofrimento dos outros, um grande medo do mundo que os rodeiam, fantasias persecutórias, sonos agressivos e aterrorizantes e mais probabilidade de atuar de forma agressiva e violentas face aos demais.

       Um estudo realizado nos Estados unidos para saber a relação entre violência e televisão encontrou indicativos que a exposição a televisão com conteúdo violento pode   ensinar as crianças técnicas de brutalidade, infundir o medo e contribuir para tornar as crianças mais insensíveis. 

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